No meio do Atlântico: conheça o aeroporto da Ilha de Ascensão, um dos mais isolados do mundo

O último aeroporto que conhecemos juntos aqui na Flap foi o de Cusco, no Peru, que é a principal porta de entrada para a turística Machu Picchu. Agora, vamos embarcar para o meio do Oceano Atlântico e explorar detalhes do aeroporto que está situado na inóspita Ilha de Ascensão.

Sobre a Ilha de Ascensão

Via Wikimedia Commons

Avistada pela primeira vez em 1501 pelo navegador português João da Nova, a vulcânica Ilha de Ascensão veio a se tornar posteriormente um território ultramarino britânico. Ela tem uma área de 88km² e está localizada no meio do Oceano Atlântico a cerca de 1.600 km da costa africana, a mais de 2.200 km da costa brasileira ou a 1.300 km da Ilha de Santa Helena. Seu litoral é predominantemente rochoso, mas existem algumas poucas praias por lá, como a Long Beach, situada próxima da capital Georgetown. O ponto mais alto da ilha é a Montanha Green (859 m). Por estar próxima da Linha do Equador, o clima por lá é quente na maior parte do ano.

Foto: Wikimedia Commons

Estima-se que pouco mais de mil pessoas habitam o local insular, sendo a maioria delas militares, que atuam nas facilidades do Exército ou da Força Aérea britânica, incluindo o aeroporto, que serve de base aérea para a Royal Air Force. Situado nas coordenadas geográficas 07°58′10″S 014°23′38″W, o Ascension Island Airport (ASI / FHAW) é uma das portas de entrada da ilha e pode ser considerado um dos mais isolados do planeta. Um desafio enfrentado pelos pilotos que pousam por lá é o forte vento na aproximação final.

História

Para contar a história desse aeroporto, vamos voltar para o final da década de 30, quando instalou-se uma estação de rádio para transmissão de HF/DF a Ilha de Ascensão. A ideia de construir um aeroporto veio no começo dos anos 40 e em 1942, logo após terem entrado na 2ª Guerra Mundial, os Estados Unidos construíram uma pista na ilha, com o auxílio dos britânicos. O local passou a se chamar Wideawake Auxiliary Airfield e era operado em conjunto pela Royal Air Force (RAF) e pela United States Air Force (USAF). A primeira aeronave a pousar na Ilha de Ascensão foi o biplano Fairey Swordfish.

O aeroporto foi extensamente utilizado ao longo da Segunda Guerra Mundial e estima-se que mais de 25 mil aeronaves tenham passado por lá durante o período do conflito. Após o término da guerra, o Wideawake Airfield foi praticamente abandonado e sua reabertura aconteceu somente em 1957.

Uma estação de rastreamento de mísseis foi instalada por lá, mas em 1967 deixou de funcionar.

Guerra das Malvinas/Falklands

Em 1980, a pista passou por uma ampliação, chegando nos atuais 3km de extensão. O local também foi reorganizado e no ano de 1982 voltou aos holofotes por conta da Guerra das Malvinas/Falklands, que foi uma disputa territorial entre Argentina e Reino Unido pela ilha localizada no extremo sul das Américas.

A Royal Air Force iniciou uma série de bombardeios durante a Guerra das Malvinas/Falklands. Essas missões ficaram conhecidas como Operação Black Buck e o aeroporto da Ilha de Ascensão, dada sua posição estratégica, foi utilizado em todas elas.

A primeira operação decolou de ASI pontualmente às 23h do dia 30 de abril de 1982. As outras decolagens aconteceram na sequência, com intervalos de 1 minuto, segundo relatos dos pilotos que participaram da tarefa. Para a realização das missões, foram utilizados os bombardeiros Avro Vulcan e os aviões-tanque Victor, que efetuavam o reabastecimento dos Vulcans no trajeto até as Malvinas. No dia 1º de maio de 1982, após viajar mais de 6 mil km e ser reabastecido 14 vezes em voo, o primeiro Avro Vulcan realizou o ataque ao aeroporto de Port Stanley, nas Malvinas, lançando 21 bombas e causando danos na pista.

Ao todo, programaram-se sete operações Black Buck, sendo que duas delas acabaram canceladas. Na missão de número seis, houve um problema na sonda de reabastecimento de um dos Vulcans e a aeronave foi forçada a realizar um pouso não programado no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. Dias depois, a nova sonda chegou e a aeronave deixou o território brasileiro. O “apoio” do Brasil fornecido à aeronave não foi visto com bons olhos pela Argentina.

A sétima e última missão Black Buck aconteceu no dia 12 de junho de 1982. Com o final da guerra, que aconteceu dias depois da última operação, a paz e a tranquilidade voltaram a reinar no Aeroporto da Ilha de Ascensão.


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Reforma da pista e Outras Movimentações

Ao longo de todos esses anos, o Aeroporto Wideawake viu, em sua maioria, aeronaves militares. No entanto, diversos aviões civis também já passaram por lá em voos pontuais.

O governo do Reino Unido começou a operar fretamentos de ASI para Londres e também para as Malvinas/Falklands com o Lockheed Tristar. Posteriormente, as empresas Air Seychelles, Air Italy e Flyglobespan foram contratadas para realizar os serviços. As três utilizaram seus Boeing 767s no trecho Londres-Ascensão-Falklands/Malvinas. Anos mais tarde, os A330 MRTT da RAF passaram a efetuar a rota de forma “quase regular”.

Existem também registros no Aeroporto de Ascensão de A340s da portuguesa Hi Fly, DC-8-63 da Meridian Airways, A330 da Air Luxor, Boeing 747 da XL Airways, Boeing 747 da Atlas Air, DC-10 da OAI, Boeing 757 e DC-8 da ATI Cargo, Boeing 707, VC-10, além de jatos executivos como o Falcon 50EX e o Challenger 650.

Foto via Joint Base

No ano de 2013, o local se tornou novamente um hub militar, mas dessa vez não por conta de uma guerra. Durante cerca de 24 dias, mais de 100 operações com o Boeing C-17 Globemaster III e com KC-10 Extender da Força Aérea dos EUA usaram a ilha para uma intensa operação levando equipamentos para a África, em preparação para visita oficial do então presidente Barack Obama ao continente africano.

Três anos depois, um DC-8 da NASA passou por Ascensão levando cientistas, que estavam realizando uma missão ATom (Atmospheric Tomography Mission) ao redor do mundo. O quadrimotor pousou procedente de Punta Arenas, no Chile, e decolou rumo a Kangerlussuaq, na Groenlândia, mas com uma parada tropical nos Açores.

Howie Marson via Facebook

Em 2017, a sul-africana Airlink começou a realizar voos partindo da África do Sul, com escala na Namíbia, para a remota ilha de Santa Helena e resolveu estender a ligação, de forma quinzenal, até a Ilha de Ascensão. A operação foi suspensa em 2020 por conta da pandemia e foi retomada em março de 2022. Os voos são efetuados com o Embraer 190, somente uma vez ao mês. (obs: o trecho para Ascensão não está disponível no site da empresa, para reservar é necessário entrar em contato com o governo da ilha).

Foto via: Ascension Island Photos Facebook

Ainda falando de 2017, vários buracos foram reportados no asfalto da pista do aeroporto e por conta das condições deterioradas da superfície, as operações no Wideawake Airport foram restritas desde então. Aeronaves de maior porte, como os A330 MRTT da RAF, que eram bastante frequentes em ASI, passaram a pousar por lá somente duas vezes na semana e, posteriormente, foram proibidos de operar em Ascensão. Os aviões de médio ou menor porte não sofreram restrições e continuaram realizando voos normalmente em ASI. Com as obras concluídas em agosto do ano passado, aeronaves de maior porte voltaram a operar em Ascensão.

Entre os meses de agosto de 2021 e março de 2022, a Titan Airways efetuou uma série de fretamentos para as ilhas de Santa Helena e Ascensão partindo do Aeroporto London Stansted. As aeronaves utilizadas pela empresa foram o Airbus A318 e também o Boeing 757-200, que mesmo com as obras, não foi restringido de operar no local.

A RAF realizou, no começo de 2021, uma operação com o A400M transportando cerca de 2 mil doses da vacina Astrazeneca aos moradores da ilha. Confira o vídeo abaixo:

Como já mencionado anteriormente, Ilha de Ascensão fica no meio do Oceano Atlântico e dada a estrutura e instalações do aeroporto, ele também serve como um local de alternativa em caso da necessidade de algum pouso não programado, por questões de emergência, por exemplo. Próximo dali, passam aeronaves que voam entre a América do Sul e a África e Oriente Médio, como os voos São Paulo – Doha, da Qatar Airways, ou São Paulo – Addis Abeba, da Ethiopian Airlines, além de trajetos entre Centro e Sul da África e a América do Norte/Caribe.

Foto via OPS Group

Em 2013, o Boeing 777-200LR da Delta Air Lines de matrícula N705DN realizava o voo DL201 entre Johanesburgo, na África do Sul, e Atlanta, nos EUA, quando um dos motores apresentou problemas e os pilotos decidiram alternar o voo para a Ilha de Ascensão. A companhia enviou um segundo Boeing 777 (N703DN) para a ilha “resgatando” os passageiros e a tripulação, que chegaram em Atlanta quase 24 horas depois do programado.

O Aeroporto Hoje

Atualmente o aeroporto, que já viveu movimentos frenéticos durante duas guerras e contava com alguns pousos semanais de aeronaves de maior porte, possui uma operação de/para St. Helena ao mês da companhia Airlink. Em relação a operações militares, elas continuam acontecendo por lá, efetuadas por aeronaves como o C-130 Hércules, Boeing C-17 ou o A400M. Porém, não se sabe ao certo com que frequência elas ocorrem.

Boeing C-17 pousando após a reabertura da pista. Foto: USAF

Características Técnicas

  • 1 pista de asfalto com 3.054 m de comprimento e 46 de largura. Cabeceiras 13 e 31.
  • Elevação: 78.6 metros
  • Coordenadas geográficas: 07°58′10″S 014°23′38″W

Para fechar nossa passagem pelo Aeroporto e pela Ilha de Ascensão deixamos aqui mais duas curiosidades:

  • As duas maiores aeronaves já registradas por lá foram o C-5 Galaxy da Força Aérea dos EUA e o Antonov 124.
Autor desconhecido
Foto via Ascension Island Photos
  • A NASA construiu um observatório em Ascensão na década de 60 e foi um dos pontos de monitoração e acompanhamento da missão Apollo 11. O local foi desativado nos anos 90 e hoje a empresa aeroespacial conta com um telescópio para monitorar detritos na órbita terrestre.

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